domingo, 2 de setembro de 2012

Libertação


        Era quase meia noite, Augusto estava sentado ao meio fio com seu caderno de anotações na mão. No caderno estavam anotados todos os seus sentimentos em palavras, geralmente confusas e desvairadas.
    Augusto era assim, e sempre foi, um cara com pinta de misterioso. Sua pele tinha de uma palidez admirável, suas veias saltadas formavam desenhos, sua altura assustava inocentes crianças. Sua roupa sempre escura, igualmente ao seu estado de espirito.
        O relógio finalmente badalou meia noite, um grupo de adolescentes faziam o caminho de volta, quando viram Augusto o estranharam, mas os cochichos e olhares atravessados não o incomodou, alias, ele estava com a mente longe para poder reparar nessas coisas.
     A rua estava vazia e silenciosa novamente, ele olhava para a lua, que dessa vez se punha cheia. Todos os dias ele a olhava, mas dessa vez era diferente. Dessa vez não a olhava simplesmente, dessa vez seu coração batia forte e o medo invadia seu corpo. Nesse dia uma mulher disse que o ama. Ele não acreditava. Ela era linda, sempre a via sorridente, as vezes a noitinha estava ela voltando do trabalho com mais algumas mulheres, e ele no banco de frente da sua casa, quando existia coragem trocavam olhares. Augusto descobriu a pouco que a tal moça chamava se Alice.
        Como seria próxima vez que a encontrasse? Alice era demais para ele. Perfeita. Ela levava sempre um sorriso lindo no rosto, e Augusto? Ele tinha um expressão morta. Uma expressão sem emoção, parecia que nada o surpreendia. Alice que não era nada, agora parecia tudo, mas mesmo assim continuava ali na miséria e estupida incompreensão. O que disse quando escutou o "eu te amo"? Não soube agir, foi um frouxo. Alice não sabia, se soubesse até se assustaria com tamanho sentimento que habitava Augusto. Augusto era a cima de tudo um homem apaixonado. Apaixonado pelo amor, e tinha uma queda pela dor. A solidão lhe era amiga, e isso foi o que o atrapalhou a vida inteira. Nenhuma de suas amadas aceitou o seu caso com a solidão. Por que essa iria aceitar?
        Com a cabeça bagunçada desceu a rua a caminho de sua casa. Entrou suavemente, seus passos nunca faziam barulho. Foi a direção do banheiro para se olhar no espelho, olhou seu reflexo no espelho e examinava o corpo da pessoa que Alice se apaixonara, analisou cada detalhe de sua face. Depois disso foi se deitar, adormeceu rapidamente.
As cinco da manha despertou se, fez sua rotina matinal e foi se sentar ao banco em frente de sua casa esperar sua talvez amada passar. Augusto não sabia o que sentia, não sabia se amava Alice, ou se amava a ideia de amar, ele só tinha certeza de uma única coisa: isso tudo era muito novo.
        De repente avistou alguém vindo da esquina, era Alice. Os fracos raios de sol, que ainda estavam nascendo, a iluminou, era uma visão linda. Em um ato surpreendente ela vem de encontro a Augusto. Suas veias pulsavam mais rápido, estava nervoso e até um pouco desconfortável, mas no fundo estava feliz. Quando chegou perto Alice dirigiu algumas palavras, ele nem se dava o trabalho de não demonstrar estar ansioso.
- Bom dia.. Esperava te encontrar aqui, todo dia está no mesmo lugar, parece que tem hora marcada. Mas bem, gostaria de falar com você, e não podia esperar.
        Augusto não sabia como agir, seus olhos transmitiam estar perdido dentro de si mesmo.
- Pois diga – disse Augusto amedrontado.
- Se lembra de o que te confessei noutro dia? É algo que preciso de resposta.. Conheci alguém ontem, ele me interessou, mas meu amor por enquanto é seu, mas não posso viver assim para sempre, sem saber se o que sinto é reciproco.
- Pensa que esse outro alguém pode te fazer feliz?
- Creio que com o tempo sim, mas de verdade queria que fosse você o motivo da minha felicidade, mas se não for possível, você não será o motivo da minha tristeza.
- Me parece que tens motivos suficientes para pensar na possibilidade de conhecer melhor essa outra pessoa. Você pode não compreender, mas para conviver comigo existem truques que nem eu conheço. Um dia você iria acabar se cansando e me daria às costas me deixando em pedaços.
       Ele, com o coração pesado se virou e entrou para casa. Ela com uma lagrima no olho continuou seu trajeto. Passaram pouquíssimos minutos, Augusto escuta um estrompo vindo da rua, foi correndo ao portão. Alice, que há poucos minutos lhe oferecia amor, estava atirada no chão. Uma bala perdia havia lhe acertado no peito. Augusto foi correndo desesperadamente até ela, e logo olhou seus olhos verdes, ainda abertos, e mortos e sorriu. Nesse momento seu coração deu um berro, estranhamente sentiu que era ela. Mas precisava acontecer isso para perceber a coisa mais obvia do mundo? Sim, precisava. Ela estava morta. Com os olhos entre lagrimas passava a mão no rosto de sua amada, e dizia:
- Desculpa por ter sido um tolo, a verdade é que eu te amo. Meu destino ainda é você garota do sorriso. Por sermos o destino de um do outro nossos corações são interligados, sempre foi. Eu te amo, e preciso do amor que me prometeu..
        Dizendo isso se levantou e foi a caminho de sua casa novamente. Estava triste, mas estranhamente leve. Chegando foi a procura de todos os medicamentos que continha em sua casa e tomou sem medo. Tomou como um ato de libertação, de amor. Já estava tonto quando pegou uma rosa do jardim e foi se deitar. Logo adormeceu em um sono sem volta. Foi ao seu destino. Foi entregar uma rosa a Alice e viver o seu amor. Finalmente havia encontrado a resposta da pergunta que era motivo de toda a escuridão de sua vida. Sua morte foi colorida.

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