segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Eu falo errado mas falo o que eu querer

Estava eu em uma sala de espera e aparece uma mulher que aparentava ser da classe média alta, ou apenas alta, confesso que não sei diferenciar isso. Ela estava com sua filha, que devia ter seus oito anos. De repente chega outra mulher que também aparentava estar na parte alta da cadeia social. As duas tem um dialogo mais ou menos assim:

"- Ai, preciso de uma babá, mas quero alguém confiável.

- Lembra a que eu tinha? Ela é muito boa, trabalha muito bem. Só dispensei ela, sabe por que? Ela fala errado, é xucra de fazenda, mas como o seu é bebe não precisa que SEJE.. né? "


Quero deixar claro que não tenho nada contra quem fala errado, pois acredito totalmente que a linguá portuguesa é o que falamos e não o que está no papel. E graças ao regionalismo nossa linguá está em constante mudança. Um exemplo disso é o sujeito "você" que usamos hoje, foi uma evolução do "vosmecê". Não me admiro se daqui um tempo "ocê" ou "cê" estiver dentro da norma culta.

O que quero colocar em pauta aqui é a hipocrisia da mulher. A xucra da fazenda infelizmente não teve a oportunidade de frequentar uma boa escola, as vezes nem escola frequentou, por isso conjuga errado os verbos. Você moça, com certeza frequentou uma boa escola, conjuga errado o verbo e ainda julga.
A xucra da fazenda fala errado, mas pelas suas palavras gostou do serviço dela. Sua filha escutou frases sem concordância, mas a xucra da fazenda era atenciosa e esforçada cuidando dela. A xucra da fazenda não ficava no celular enquanto a menina estava do lado querendo atenção. A xucra da fazenda que fala errado não te julgou por sua hipocrisia.

"Mas quando alguém te disser ta errado ou errada
Que não vai S na cebola e não vai S em feliz
Que o X pode ter som de Z e o CH pode ter som de X
Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz"



Zaluzejo - O Teato Mágico


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