quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A comunicação que não temos

   Ontem eu lembrei porque eu quis estudar comunicação. Entre toda a crise identitária contemporânea é um verdadeiro alivio. Estava eu no parque municipal cobrindo o aniversário da cidade para fazer uma matéria valendo ponto. Obrigada. Na hora preferia estar em casa vendo Grey's Anatomy, ou dormindo, qualquer coisa. Mas ok, a vida não é um conto de fadas, fui, e acabei me surpreendendo. Engraçado como não esperamos muita coisa de algo que somos obrigados a fazer.
     
     Meu namorado foi também para fazer a cobertura aérea usando um drone. Sempre chove de crianças curiosas, dessa vez não seria diferente. A primeira a ver o "avião" no céu e associar com o controle na mão de um cabeludo estava muito maravilhado com o negocio voando. Mas MUITO mesmo. Ele ria sozinho, arregalava o olho, muito surpreso e feliz. Não demorou para ele subir no banco que tinha ao lado para ver as imagens do controle, a expressão de fascínio  no rosto do garoto só aumentava. É até difícil descrever. Eu não tinha percebido uma coisa até aquele garoto tentar falar, ele era surdo e mudo. Mas mesmo assim não deixava de se expressar, mesmo assim eu não deixava de perceber como ele estava alegre com aquela coisa. Ele gesticulava com a mão, tentava falar mas só saia barulhos. Meu namorado conseguiu perceber que ele pediu para controlar o drone, e respondeu "não, não". Fiz cara de paisagem né. Enfim. O menino viu uma mulher que o conhecia, e tudo que ele queria era mostrar o drone voando para ela, compartilhar a felicidade. Ele apontava para o céu, para o o controle e tentava falar, saia barulhos altos, até que enfim a mulher viu. E depois, o que aconteceu? Ela pediu desculpas porque ele era especial. DESCULPAS. Tipo, "o menino é espontâneo e curioso, mas nasceu mudo e surdo, desculpa pela única forma que ele consegue se comunicar". Que mundo é esse que temos que nos desculpar por nossos defeitos? Eu entendo o pedido de desculpa da mulher, existem muitos intolerantes no mundo, o que não entendo é justamente os intolerantes. Parece que cada dia que saio da caverna me decepciono mais com sociedade. 

     Mas enfim, depois dessa saída de foco, justificada, volto. Por que eu me lembrei o motivo de estudar comunicação? Porque a comunicação é uma coisa muito louca. O menino surdo e mudo não deixava de se comunicar, de brincar com as outras crianças (ele não precisava pedir desculpa para elas), de explorar o mundo. A comunicação é o eixo central da vida. As brigas começam com a má interpretação, e a internet e as redes sociais chegou para provar isso, creio que nem preciso de dar exemplo. Quando comecei a curso de jornalismo tinha a ideia romântica de fazer revolução como jornalista, hoje já sei que isso é difícil. Sei que a minha tarefa será trabalhar e levar informação para as pessoas em uma época louca. Uma época em que as pessoas nascem sabendo se comunicar, mas como Rousseau concordaria, a vida em sociedade o faz perder essa característica. Se os adultos soubessem, e não tivessem medo de comunicarem tão verdadeiramente como esse menino que conheci no parque o mundo estaria melhor.  

Nenhum comentário: